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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A vida é um Sopro – Oscar Niemeyer – Documentário

A Vida é um Sopro A Vida é um Sopro A vida é um Sopro - Oscar Niemeyer - Documentário a vida e um sopro
A Vida é um Sopro
É possível contar a história de um povo através da sua arquitetura? Dizem que o aspecto mais importante da aparência dos edifícios está no que vislumbramos a respeito das sociedades que os construíram. Seguindo este raciocínio, podemos afirmar que a arquitetura de Oscar Niemeyer e outros arquitetos da sua geração é, com certeza, o que de melhor o Brasil produziu. Uma arquitetura com alma própria, inspirada na geografia de nosso país, que acabaria por influenciar arquitetos no mundo inteiro.

Oscar Niemeyer – A vida é um sopro 
é um filme que, sem pretender ser inovador ou genial como o personagem que lhe serve de tema, procura se pautar na clareza de suas linhas e na poética de suas formas, para (re)construir a história do maior ícone da Arquitetura Moderna Brasileira. Uma história indissociavelmente ligada às transformações do país neste último século.
No documentário, de 90 minutos, o arquiteto conta de forma descontraída como concebeu seus principais projetos. Mostra como revolucionou a Arquitetura Moderna, com a introdução da linha curva e a exploração de novas possibilidades de utilização do concreto armado. Fala também sobre sua vida, seu ideal de uma sociedade mais justa e de questões metafísicas como a insignificância do Homem diante do Universo.
Produzido pela Santa Clara Comunicação e rodado em vídeo digital e 16mm no Brasil, na Argélia, França, Itália, Estados Unidos, Uruguai, Inglaterra e Portugal, A vida é um sopro é costurado por imagens de arquivo inéditas e raras, e por depoimentos de personalidades como os escritores José Saramago, Eduardo Galeano e Carlos Heitor Cony, o poeta Ferreira Gullar, o historiador Eric Hobsbawn, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, o ex-presidente de Portugal Mário Soares e o compositor Chico Buarque.
Gênero: Documentário
Ano/Produção: 2007/Brasil
Duração: 90 min.
Fonte: Sinopse / Trailer YouTube


Nova Iorque mostra que ciclovias protegidas são realmente um avanço


© Flickr CC User Paul Krueger   

  © Flickr CC User Paul Krueger

A implementação de ciclovias protegidas nas cidades frequentemente suscita objeções de condutores que acreditam que dedicar uma pista inteira aos ciclistas prejudica o fluxo dos carros e cria mais congestionamentos nas cidades. Contudo, um estudo sobre as ruas de Nova Iorque que vem sendo desenvolvido desde a implementação das primeiras ciclovias protegidas na cidade em 2007, mostra que, na realidade, o oposto é verdadeiro: separar os diferentes tipos de tráfego torna os deslocamentos mais rápidos.
Isso sem nem considerar os benefícios para a segurança dos ciclistas que este tipo de ciclovia garante, com o estudo demonstrando que o risco de acidentes envolvendo ciclistas e pedestres diminuiu nas ruas onde as ciclovias protegidas foram instaladas.
Saiba mais sobre os resultados desse estudo, a seguir.
O estudo mostra que, mesmo com o o grande aumento do número de ciclistas, o número total de acidentes envolvendo os que se deslocam sobre duas rodas caiu entre 2001 e 2013, representando uma diminuição de 65% no risco de acidentes relacionados com o ciclismo urbano. O número total de acidentes envolvendo todos os meios de transporte caiu 20% nesse período.
Além disso, o tempo de deslocamento nessas ruas também diminuiu. Por exemplo, o tempo gasto no trânsito na Columbus Avenue caiu 35%. Na Primeira Avenida a velocidade média dos táxis aumentou nos trechos onde as ciclovias foram instaladas; porém, nos trechos sem ciclovias houve um aumento no tempo de deslocamento.
Falando à FastCo, Josh Benson, diretor dos programas para ciclistas e pedestres do New York City Department of Transportation, atribuiu o aumento na velocidade do tráfego ao desenho das interseções de vias, onde os carros que dobram as esquinas contam com uma área dedicada onde podem aguardar sem atrapalhar o fluxo: "Com essa área de remanso fora do fluxo você consegue ver o ciclista, o ciclista consegue ver o veículo dobrando a esquina, você pode parar e não se sentir pressionado pelo trânsito de trás a fazer um movimento rápido. Essa é uma grande medida de segurança associada a esse tipo de ciclovia, mas que também beneficia o trânsito."
Além desses resultados, o estudo também descobriu que as ruas com ciclovias protegidas apresentaram maior crescimento comercial que as ruas sem ciclovias. Essa demonstração empírica de que ciclovias são boas para mais pessoas além dos ciclistas é importante para convencê-las a reivindicar mais delas, disse Sean Quinn, co-diretor do Grupo de Projetos para Pedestres do DOT: "Não vamos apenas dizer que esse é um equipamento para bicicletas e que vai beneficiar um meio de transporte - diremos que as ciclovias têm o potencial de beneficiar a todos nos bairros onde forem instaladas."
Via Fastco Exist



Fonte:Stott, Rory. "Nova Iorque mostra que ciclovias protegidas são realmente um avanço" [New York Shows that Protected Cycle Lanes are a Win-Win Improvement] 27 Sep 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo Baratto) Acessado 28 Set 2014. http://www.archdaily.com.br/br/627730/nova-iorque-mostra-que-ciclovias-protegidas-sao-realmente-um-avanco?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=e56d4308c8-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-e56d4308c8-407774757

4 propostas para o primeiro parque elevado de Washington
© OLIN / OMA    
© OLIN / OMA
OMA, Höweler + Yoon, NEXT Architects, e Cooper, Robertson & Partners fazem parte das quatro equipes competindo para projetar o primeiro parque público elevado de Washington D.C.. Como parte de um concurso de seis meses de duração, as equipes acabam de divulgar suas propostas preliminares para o que será conhecido como o 11th Street Bridge Park.
Suspenso sobre o Rio Anacostia, o parque busca reconectar dois distritos bastante diferentes da cidade e reaproximar a população das orlas do rio. Espaços educativos e de performances, além de cafés e áreas desportivas, farão parte do programa do parque.
Dê uma olhadas nas quatro propostas, a seguir.
Balmori Associates / Cooper, Robertson & Partners
O Bridge Park funcionará tanto como um centro cívico quanto como um parque. Ele é mais que o cruzamento de um rio; é um lugar. Será uma proposta pioneira por reforçar o sentido de comunidade na população que o utilizará. Através do projeto do Bridge Park, acreditamos que podemos ajudar a reconectar os diversos bairros em ambos os lados do rio, reaproximar a água da vida das pessoas, melhorar a qualidade dos espaços públicos através de atividades físicas e sociais, e gerar novos empregos para os cidadãos locais. Essas ideias moldaram nossa proposta. Nosso objetivo é criar um Bridge Park que seja inclusivo, memorável e simbólico. 
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  © Balmori Associates / Cooper, Robertson & Partners
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 © Balmori Associates / Cooper, Robertson & Partners

OLIN / OMA
Nossa proposta para o 11th Street Bridge Park—o Anacostia Crossing— é um lugar de trocas. O parque conectará dois lados historicamente separados com uma série de espaços e programas externos e zonas ativas que proporcionarão um espaço de engajamento suspenso sobre - ainda que ancorado no - rio Anacostia. Para criar esse lugar - mais um destino que uma passagem - concebemos a ponte parque como um momento claro de interseção onde os dois lados do rio convergem e coexistem. OAnacostia Crossing oferecerá diversos programas, um novo parque para o bairro, um local de descanso para os trabalhadores locais, um refúgio para os habitantes e um território para os turistas explorarem. 
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Stoss Landscape Urbanism / Höweler + Yoon Architecture
Historicamente, pequenos barcos e balsas proporcionaram conexões vitais entre os rios de Washington, incluindo locais ao longo do rio Anacostia. Num passado não tão recente, as balsas transportavam os trabalhadores que habitavam os bairros próximo ao Anacostia e os levavam ao longo do rio para seus empregos. Essas cruzamentos de balsa se tornaram locais de encontro e trocas sociais, e não apenas locais de passagem. Nosso projeto propõe um novo cruzamento que estabelece novas conexões ao longo do Rio Anacostia e entre as comunidades de cada margem dele.
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      © Stoss Landscape Urbanism / Höweler + Yoon Architecture
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  © Stoss Landscape Urbanism / Höweler + Yoon Architecture
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© Stoss Landscape Urbanism / Höweler + Yoon Architecture

Wallace Roberts & Todd (WRT) / NEXT Architects / Magnusson Klemencic Associates
Bem vindo ao Anacostia Landing, um parque de 25 acres desenvolvido ao redor do Rio Anacostia, um portal para a história do local e a partir do qual os distritos próximos se desenvolverão como cidades costeiras. O projeto desenvolvido pela parceiraWRT/NEXTatende e dá forma aos objetivos do edital do concurso: reconectar as diversas comunidades, reaproximar as pessoas da água, melhorar a saúde pública através da recreação e lazer, e expandir as oportunidades econômicas. 
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   © Wallace Roberts & Todd (WRT) / NEXT Architects / Magnusson Klemencic Associates
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  © Wallace Roberts & Todd (WRT) / NEXT Architects / Magnusson Klemencic Associates
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     © Wallace Roberts & Todd (WRT) / NEXT Architects / Magnusson Klemencic Associates

A equipe que continuará desenvolvendo a proposta será anunciada em outubro. Dê uma nota para cada projeto aqui.

Fonte:Rosenfield, Karissa. "4 propostas para o primeiro parque elevado de Washington" [4 Visions Released for D.C.’s First Elevated Park] 28 Sep 2014.ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo Baratto) Acessado 28 Set 2014. http://www.archdaily.com.br/br/627756/4-propostas-para-o-primeiro-parque-elevado-de-washington

21 dicas para uma vida bem sucedida na arquitetura
Escritórido BIG. Cortesia de BIG-Bjarke Ingels Group  
 Escritórido BIG. Cortesia de BIG-Bjarke Ingels Group

Originalmente publicado em Entrepreneur ArchitectKevin J Singh, Professor Associado da Louisiana Tech, nos mostra neste artigo 21 pontos sobre como ter uma vida bem sucedida e feliz como arquiteto. A lista dá algumas diretrizes que certamente ajudarão estudantes e jovens arquitetos, mas que podem também ser úteis a profissionais não tão jovens que necessitam repensar o que lhes é mais importante na vida profissional. 
O que vem a seguir é uma compilação da palestra que proferi em meu último dia de aula. Em vez de recapitular o conteúdo ou aplicar uma prova final, compartilhei com meus alunos uma apresentação intitulada You Finish School and Start to Practice. Nela apresento uma série de declarações seguidas por breves explicações.
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     Cortesia de WRNS Studio

1. Começando sua carreira 
  • Você pode começar a validar horas em programas de treinamento assim que terminar o colegial.
  • Se você ainda não começou a fazer isso, se inscreva em um desses programas durante sua graduação!
2. Não se prenda a escritórios da "velha guarda" 
  • A juventude é o futuro
  • Escritórios precisam incorporar as ideias, energia e entusiasmo dos jovens.
  • Fique atento ao que os Millennials do escritório estão fazendo.
  • Assegure-se de que os jovens profissionais são valorizados nos escritórios onde você fizer entrevistas.
3. Contatos = a chave para o progresso 
  • Conheça todos na comunidade arquitetônica e dos campos adjacentes (de todas as idades e níveis de experiência)
  • Não subestime o valor de uma associação ao IAB ou ao CAU (ou outras entidades profissionais) e oportunidades de fazer contatos.
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Contatos - a chave para o progresso. Cortesia de Wikimedia Commons User Townsville Chamber

4. Não se aborreça com clientes que pensam que sabem tudo sobre arquitetura 
  • Seja paciente.
  • Eduque e mostre várias opções (processos de raciocínio diversos) para abrir a discussão.
  • Seja profissional.
  • Lembre-se que você foi educado(a) como um(a) arquiteto(a) (o/a cliente não)
5. Não tome decisões que não possam ser revistas 
  • O mundo da arquitetura é muito pequeno.
  • Suas ações e decisões serão lembradas.
6. Procure ser o n° 1 
  • Essa é a sua carreira, e apenas sua.
  • Assegure-se de que você esteja adquirindo experiência e aceitando as oportunidades e compensações.
  • Se não estiver, siga em frente!
7. Faça-se ouvir 
  • As melhores ideias nunca são incorporadas aos projetos a menos que sejam ouvidas, apresentadas e defendidas.
  • Muitos processos e detalhes podem ser melhorados se você simplesmente mostrar soluções mais adequadas àqueles que tomas as decisões.
  • Melhorias são sempre apreciadas por diretores e clientes.
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 Todos somos únicos. Sucesso não significa necessariamente um grande escritório. Cortesia de Zeroplus Architects

8. Você deve projetar sua carreira e posição 
  • Todos somos únicos = posições/empregos únicos
  • Reflita continuamente sobre suas experiências para determinar o que você quer realmente fazer.
  • Tome decisões para alcançar seus objetivos.
9. Diferencie-se
  • Desenvolva suas habilidades únicas.
  • Demonstre como elas fazem de você um profissional melhor.
  • Utilize essas habilidades para fazer as coisas por conta própria.
10. Não confunda um estágio com um emprego de tempo integral 
  • Um estágio te introduz ao modo como o escritório funciona e os projetos são desenvolvidos.
  • Empregos de tempo integral implicam em responsabilidades e produtividade (prazos)
  • Empregos de tempo integral = estresse!
11. A tecnologia nos guiará 
  • Você deve ficar na vanguarda da tecnologia.
  • Seja voluntário para aprender novos softwares e lidere sua implementação no escritório.
  • Aprenda BIM e domine essa ferramenta ainda na graduação.
12. Sustentabilidade é seu legado e oportunidade 
  • Se você se dedicar a aprender muito sobre sustentabilidade ainda na graduação, poderá compartilhar seus conhecimentos com os demais arquitetos do escritório, conquistando respeito.
  • Assuma a liderança em sustentabilidade no escritório onde trabalha.
  • Torne-se um LEED Green Associate ainda na graduação.
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   Você deve educar a todos sobre sustentabilidade. Cortesia de Perkins + Will

13. Você precisa se aprofundar em ambientes construídos sustentáveis 
  • Você deve educar todos sobre sustentabilidade.
  • O resultado virá na forma de futuros clientes.
14. Construa comunidades 
  • Apenas 2% das pessoas podem bancar os serviços de um arquiteto.
  • O que você está fazendo para ajudar os outros 98%.
  • Envolva-se com sua comunidade.
15. Salve a profissão 
  • Arquitetos não são justamente recompensados porque o público em geral não valoriza (ou sabe) o que fazemos.
  • Ensine, compartilhe, mostre e demonstre aos outros como podemos melhorar o mundo.
16. Educação não acaba na escola 
  • Você deve permanecer na vanguarda do conhecimento em materiais, sistemas e tecnologias.
  • Não deixe o mundo te passar para trás.
17. Oriente
  • Ajude a ensinar a próxima geração.
  • Uma via de mão dupla (olhe para frente e para trás).
  • Você aprenderá algo no processo e se lembrará o porquê de ter escolhido essa profissão.
18. Não deixe o mau humor te pegar 
  • Inspire-se continuamente na geração mais nova e aproveite seu otimismo e energia.
  • Seja um profissional positivo e otimista.
19. Conserte algo 
  • O mundo está repleto de problemas.
  • Escolha um ou dois deles e os corrija.
20. Complete a tarefa 
  • Você iniciou o processo de se tornar um arquiteto... então conclua.
  • Mantenha seus olhos no prêmio!
21. Consideração final 
  • O edifício mais fácil de se projetar é uma caixa, mas arquitetos não projetam caixas.
  • Arquitetura tem a ver com servir aos outros através do projeto do ambiente construído. Assegure-se de que seu trabalho sirva aos outros e contribua com um mundo mais sustentável.
Espero que essa lista faça você pensar sobre a época em que estava concluindo a escola e embarcando em sua carreira. Se você pudesse voltar atrás e dar algum conselho ao seu eu mais jovem, o que você diria? Que conselho você daria à próxima geração de arquitetos? Por favor, compartilhe suas opiniões nos comentários a seguir.
Kevin Singh é Professor Associado de Arquitetura na Escola de Design da Louisiana Tech University e Diretor do Community Design Activism Center (CDAC) desde 2006. 
Kevin se formou na Ball State University (B.Arch.) e na Auburn University (MBC) e é membro do conselho da Association for Community Design (ACD) desde 2012. Ele foi recentemente homenageado como um dos "40 Under 40" pela revista Building Design + Construction

Fonte:Kevin J Singh. "21 dicas para uma vida bem sucedida na arquitetura" [21 Rules for a Successful Life in Architecture] 23 Sep 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Romullo Baratto) Acessado 28 Set 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/627558/21-dicas-para-uma-vida-bem-sucedida-na-arquitetura?ad_medium=widgets&ad_name=most-visited-article-show

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

8 iniciativas urbanas inspiradoras

Reportagem publicada na revista Red Report (fev/2013).
Com suas bicicletas dobráveis na bagagem, duas amigas viajaram o mundo para desenvolver o projeto Cidades para Pessoas, que pesquisa soluções inteligentes para os grandes problemas urbanísticos das metrópoles. Depois de visitar 12 cidades ao longo de nove meses, voltaram cheias de boas ideias
Pedalar é como flertar com uma cidade”, escreveu o músico escocês David Byrne em seu livro Diários de Bicicleta, em que conta peripécias vividas com seu meio de transporte favorito. Partilho da paixão dele pelas bikes: não há veículo melhor para explorar lugares – e se deixar seduzir por eles. Em especial, se forem metrópoles que superaram problemas urbanísticos com soluções criativas, como as 12 cidades onde pedalei, por nove meses, durante a pesquisa para o projeto Cidades para Pessoas.
A viagem foi dividida em duas partes. Na primeira, percorri sozinha sete destinos na Europa: Copenhague (Dinamarca), Amsterdã (Holanda), Londres (Inglaterra), Friburgo (Alemanha), Paris, Lyon e Estrasburgo (as três na França). Na segunda etapa, com a artista plástica Juliana Russo, percorri Cidade do México, Barcelona (Espanha) e, nos Estados Unidos, Nova York, San Francisco e Portland. Tudo financiado coletivamente, graças à plataforma brasileira de crowdfunding Catarse. No final, coletamos boas propostas, como as que contamos a seguir.
1. CopenhagueDo Esgoto à Piscina
Basta atravessar as portas de vidro do aeroporto para entender a fama de cidade mais ciclável do mundo: um mar de bicicletas coloridas estacionadas dá as boas-vindas na capital dinamarquesa. Uma das primeiras cidades modernas a nortear seu desenvolvimento econômico com foco nas pessoas, Copenhague transformou avenidas em vias de pedestres já na década de 1950, quando a maioria dos governos construía viadutos para os carros.
Em 1996, a prefeitura colocou em prática um plano para purificar as águas do canal Havnebadet, que circunda a cidade. Na época, ele estava poluído e isolado das pessoas por uma malha industrial. Essas fábricas foram removidas para uma região mais afastada, e os sistemas de esgoto passaram por ampla modernização: ganharam estações de tratamento e foram construídos reservatórios para que, em dias de chuva, o esgoto não se misturasse à água do canal.
Com a saída das indústrias, o rio voltou a ficar visível e as margens se transformaram em áreas de lazer e recreação, ganhando mobiliário urbano como pistas de skate, quadras poliesportivas, ciclovias e campos gramados. o projeto de limpeza da água foi tão efetivo que, em 2005, foi inaugurada a primeira piscina pública de Copenhague, no meio de um canal. E a capital da Dinamarca passou a trilhar um caminho para adquirir uma nova fama: a de melhor grande cidade do mundo para quem gosta de nadar.
2. LondresMais opções de Mobilidade
“A boa cidade, do ponto de vista da mobilidade, é a que possui mais opções”, explica o planejador urbano Jeff Risom, do escritório dinamarquês gehl Architects. E Londres está entre os melhores exemplos práticos dessa ideia aplicada às grandes metrópoles.
A capital inglesa adotou o pedágio urbano em 2003, diminuindo o número de automóveis em circulação e gerando uma receita anual que passou a ser reaplicada em melhorias no seu já consolidado sistema de transporte público. Com menos carros e com a redução da velocidade máxima permitida, as ruas tornaram-se mais seguras para que fossem adotadas políticas que priorizassem a bicicleta como meio de transporte. Em 2010, Londres importou o modelo criado em 2005 em Lyon, na França, de bikes públicas de aluguel. Em paralelo, começou a construir uma rede de ciclovias e determinou que as faixas de ônibus fossem compartilhadas com ciclistas, com um programa de educação massiva dos motoristas de coletivos. Percorrer as ruas usando o meio de transporte mais conveniente – e não sempre o mesmo – ajuda a resolver o problema do trânsito e ainda contribui com a saúde e a qualidade de vida das pessoas.
3. ParisCalor a favor
Praia, samba bem brasileiro e um calor de 40 graus são, por incrível que pareça, receita urbana de sucesso em Paris. A prefeitura entendeu o que precisa ser percebido melhor no Brasil: o clima quente durante o verão pode ser um recurso positivo se for usado a favor da população.
Criar espaços públicos para que as pessoas possam aproveitar o sol é uma iniciativa que entrou na agenda da cidade em 2002, com a criação da Paris Plage (Praia de Paris). o que começou com um pequeno trecho de praia artificial, criada com tanques de areia, foi se espalhando por quase toda a margem do Rio Sena. Atualmente, nessa época do ano, a avenida que circunda o rio é desativada e ocupada por guardasóis, jatos de água, rodas de samba brasileiras, bibliotecas públicas e atividades de recreação para todas as idades.
E no subsolo da Paris Plage ganhou destaque o centro cultural mais curioso da França: o Museu do Esgoto, que percorre as tubulações da cidade para contar a história da despoluição do Sena. Duas medidas simples – saneamento básico e espaços públicos de veraneio – garantiram um cenário de praia e samba nada convencional, saudável e muito bem-sucedido
4. São FranciscoEstacionamento para Humanos
Tomar um café ou uma cerveja na calçada, apreciando o movimento dos pedestres, tem um sabor especial em San Francisco. Principalmente se você estiver em um parklet, prolongamento da calçada que ocupa antigas vagas públicas de estacionamentos de carros, adaptado para receber mesas e cadeiras para clientes de bares, cafés e restaurantes.
A ideia surgiu, como é comum na vanguardista cidade californiana, de um movimento de engajamento cívico. os sócios da empresa de design urbano Rebar se uniram a amigos ativistas para fazer ocupações artísticas dessas vagas públicas para automóveis. No Dia Mundial sem Carro, o vazio onde caberia um veículo passaria a contar com grama sintética, bancos, árvores, mesas, cadeiras, piqueniques e o que mais viesse à mente das pessoas envolvidas. A ideia era provocar a reflexão: “E se esse espaço, em vez de ser ocupado pelos carros, fosse destinado a pessoas?”. o movimento inspirou funcionários da prefeitura a criar o departamento Pavements to Parks, com o intuito de recuperar para a população as áreas dominadas pelos carros. Com a regulamentação da construção de parklets, o poder público passou a emitir autorizações aos comerciantes interessados em construir e montar o seu. A prefeitura, o comércio e os consumidores saem ganhando.
5. PortlandChuva não é Problema
Ao ler o guia turístico de Portland, já sabíamos o que nos esperava na cidade do estado norte-americano de oregon: uma lista de programas para fazer enquanto está chovendo. No começo dos anos 2000, a estação chuvosa local, que vai de novembro a junho, deixou de ser vista como um problema. Em vez disso, os planejadores e gestores públicos compreenderam que a cidade pedia
soluções de revestimento alternativas ao asfalto – que, impermeabilizado, faz com que a água corra até os rios carregando toda a poluição dos carros. Assim, em 2005 foi adotado o programa grey to green, cujo objetivo era construir infraestrutura ecológica: ruas com concreto permeável, calçadas feitas com pouquíssimo concreto, um tanque de terra – para que a água entre no solo e chegue limpa ao rio – e telhados verdes, que ajudam a filtrar a água e garantem naturalmente o conforto térmico de prédios e casas. Deixar Portland ainda mais encantadora com um rio que fica mais puro a cada ano foi possível com o simples ato de considerar o clima e as peculiaridades locais como recursos, e não problemas.
Outras boas ideias
No processo de melhoria das cidades, projetos não oficiais, que partem da sociedade civil organizada, são tão importantes quanto a gestão pública. Em Nova York, na década de 70, um grupo de ativistas criou o Food Co-op, um mercado que funciona até hoje e onde só associados podem fazer compras. Cada integrante do coletivo trabalha quatro horas por mês, e os alimentos vendidos (por preços baixíssimos) são cuidadosamente escolhidos entre produtos locais, orgânicos e algumas opções industrializadas.
Nesse mesmo esquema de cooperativa, mas com enfoque integral, a Aurea Social foi criada em Barcelona como uma resposta à crise espanhola. Em um espaço cultural, procura-se oferecer de tudo um pouco: saúde pública, moradia, aulas de ioga, horta comunitária etc. É possível pagar com um banco de horas trabalhadas no próprio grupo, fazendo com que todos esses serviços sejam acessíveis a qualquer um disposto a cooperar.
Já na Cidade do México, foi o bom humor que levou o ciclista Jorge Cañez a se vestir com uma máscara de luta livre preta e branca para encarnar, nas ruas, um super-herói chamado Peatónito, que luta pelo respeito aos pedestres no caótico trânsito da capital mexicana.
Como vimos, ao pedalar em meio às boas soluções que existem mundo afora, uma cidade melhor para as pessoas depende basicamente da atitude… das pessoas.
texto: Natália Garcia
ilustrações: Juliana Russo

Fonte: POSTADO EM 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A difícil arte de ouvir


Um dos maiores problemas de comunicação tanto das massas como a interpessoal, é de como o receptor, ou seja, o “outro”, ouve o que o emissor, ou seja, a pessoa, falou.
Numa mesma cena de telenovela, notícia de telejornal ou num simples papo ou discussão, observe que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento.
Na conversação, dá-se o mesmo. Raras, raríssimas são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que o outro está dizendo.
Diante desse quadro, venho desenvolvendo uma série de observações e, como ando bastante entusiasmado com a formulação delas, divido-as com o competente eleitorado que, por certo, me ajudará, passando-me as pesquisas que tenha a respeito.
Observe que:
  1. Em geral, o receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que o outro não está dizendo.
  2. O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que quer ouvir.
  3. O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que acostumou a ouvir.
  4. O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que imagina que o outro irá falar.
  5. Numa discussão em geral, os discutidores não ouvem o que o outro está falando: eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em seguida.
  6. O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que gostaria, ou de ouvir, ou o que o outro dissesse.
  7. A pessoa não ouve o que o outro fala: ela ouve o que está sentindo.
  8. A pessoa não ouve o que o outro fala: ela ouve o que já pensava a respeito daquilo que a outra está falando.
  9. A pessoa não ouve aquilo que a outra está falando: ela retira da fala da outra apenas as partes que tenham a ver com ela e a emocionem, agradem, ou molestem.
  10. A pessoa não ouve o que a outra está falando: ouve o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Vale dizer. Ela transforma o que a outra está falando em objeto de concordância ou de discordância.
  11. A pessoa não ouve o que a outra está falando: ouve o que possa se adaptar ao impulso do amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra.
  12. A pessoa não ouve o que a outra está falando: ouve da fala dela apenas aqueles pontos que possam fazer sentido para as idéias e pontos de vista que, no momento, a estejam influenciando ou tocando mais diretamente.
  13. Esses doze pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil de comunicar! O que há em geral, ou são monólogos paralelos, à guisa (tentativa) de diálogo. O próprio diálogo pode haver sem que necessariamente haja comunicação. Esta só se dá quando ambos os pólos ouvem-se, não, é claro no sentido material de “escutar”, mas no sentido de procurar compreender em sua extensão e profundidade, o que o outro está dizendo.
    Ouvir, portanto é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia.
    Ouvir implica numa entrega ao outro, numa diluição dele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interfere como um ruído na plena recepção daquilo que o outro está falando. O receptor não ouve o que o outro fala: outros elementos perturbam o ato de ouvir.
    Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audição. Um deles é o mecanismo de defesa. Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de perderem a si mesmas. Elas precisam “não ouvir” porque “não ouvindo” livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem e assim por diante. Livram-se do novo, que é saúde, mas as apavora. Não ouvir é, pois um sólido mecanismo de defesa.
    Ouvir é um grande desafio, desafio de abertura interior, de impulso na direção do próximo, de comunhão com ele, de aceitação de como é e como pensa. Ouvir é proeza. Ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria.
    Depois que a pessoa aprende a ouvir, ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas ou patentes em tudo àquilo que os outros estão dizendo a propósito de falar.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014


O uso da bicicleta nos EUA: As mudanças geradas pelas ciclovias segregadas
Portland, Estados Unidos. © Steven Vance, via Flickr


O aumento recente do número de ciclistas nas cidades brasileiras coloca em pauta a necessidade de uma infraestrutura cicloviária que proporcione mais segurança aos trajetos em duas rodas e que conviva pacificamente com quem se desloca a pé, em transporte público ou de carro.
Para conhecer soluções para esta necessidade, é útil ver o que têm feito outras cidades em relação a esse assunto.
Assim, mostramos a seguir um estudo que revela algumas cifras dos efeitos positivos gerados pela implementação de ciclovias segregadas das pistas dos veículos automotores em cinco cidades estadounidenses, onde não apenas os trajetos se tornaram mais seguros, como também o número de ciclistas aumentou.
Uma ciclovia garante mais segurança às pessoas que se transportam pela cidade de bicicleta?
Esta foi a principal questão da enquete realizada pelo acadêmico Christopher Monsere, da Portland State University, como parte de uma pesquisa que buscava conhecer as consequências da implementação de ciclofaixas em Austin, Chigaco, Portland, São Francisco e Washington. Cabe mencionar que algumas destas cidades não apenas não contavam com ciclovias segregadas, como em certos lugares não havia ciclovia alguma.
A segurança efetivamente se tornou uma realidade e, se analisarmos os números, os resultados são muito encorajadores para se considerar as ciclovias uma opção para as cidades brasileiras.
De acordo com os resultados, nas novas ciclovias segregadas o número de ciclistas passou de 21% para 171% nos casos mais extremos. Além disso, através de enquetes pôde-se determinar que os cidadãos que optaram pela bicicleta como meio de transporte – e que utilizavam outro meio de transporte motorizado – representam 10%.
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Assim, o estudo permite concluir que as ciclovias segregadas não apenas fazem com que os ciclistas se sintam mais seguros, como também incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte público.
Via Plataforma Urbana. Tradução Arthur Stofella, ArchDaily Brasil.


Fonte:Constanza Martínez Gaete. "O uso da bicicleta nos EUA: As mudanças geradas pelas ciclovias segregadas" 02 Sep 2014. ArchDaily. Accessed 3 Set 2014.http://www.archdaily.com.br/br/626273/o-uso-da-bicicleta-nos-eua-as-mudancas-geradas-pelas-ciclovias-segregadas
Genro manda apresentador "estudar mais"


Danilo Gentili provoca Luciana Genro e diz que “o socialismo é 

horrível e fracassou”. Candidata rebateu: “E o capitalismo, tu acha 

que acertou? Só acha que sim porque estás numa situação 

privilegiada. Se estivesse hoje na ocupação Anchieta, em que estive, 

tu ia achar que o capitalismo fracassou também”

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Luciana Genro, entrevistada por Danilo Gentili, sugeriu que o apresentador precisa “estudar mais” antes de falar sobre determinados temas (captura)

A candidata do Psol à presidência da República, Luciana Genro travou um debate com
o apresentador Danilo Gentili sobre as experiências de comunismo e socialismo. A
ex-deputada recomendou que o apresentador estudasse mais sobre o assunto antes
de emitir suas opiniões. Rapidamente, a discussão ganhou as redes sociais. Danilo
Gentili é seguidor e admirador confesso de Olavo de Carvalho – uma espécie de guru da 
nova direita brasileira.
“Você disse que não se viu ainda o socialismo ser colocado em prática embora China,
Cuba, Camboja, Coréia do Norte, todos esses lugares horríveis estavam ali seguindo Marx”,
disse Danilo Gentili. Luciana Genro imediatamente rebateu. “Não, não estavam. Não
 estavam seguindo Marx. Coitado do Marx. Ele se vira na tumba a cada vez que seu
nome é falado”, respondeu.
Danilo Gentili seguiu com a provocação. “Que homem horrível para se comunicar então!
Pessoal sempre interpreta ele errado, hein?” Nesse momento, a candidata do Psol
demonstrou certa ironia. “E o capitalismo, tu acha que acertou? Só acha que sim porque
tu estás numa situação privilegiada. Se tu estivesse hoje na ocupação Anchieta, em
que estive hoje, tu ia achar que o capitalismo fracassou também”, disparou.
“Mas se fosse no socialismo eles não estariam morando no barraco, estariam sendo
fuzilados nos barracos”, complementou o apresentador. “Isso não é comunismo, Danilo!
Se tu estudasses um pouco mais ia conhecer o assunto”, retrucou Luciana, deixando o
humorista desconcertado. “Eu acho que em nenhum lugar do mundo nós temos um
modelo de sociedade a seguir. Nós precisamos construir o nosso próprio modelo com
democracia e com liberdade”, disse a ex-deputada
Luciana continuou ouvindo discursos de Danilo e também de Roger, integrante da banda
Ultraje a Rigor e da equipe do programa, sobre o “fracasso” do socialismo em nações que
tentaram colocá-lo em prática. O músico chegou a dizer que esses regimes “já mataram
mais de 80 milhões de pessoas no mundo” e que “velhões babões” ainda acreditam neles.

Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/09/luciana-genro-danilo-gentili.html

Por que votar em Luciana Genro

Um governo que defenda os interesses do povo brasileiro e não de um pequeno grupo tem que mobilizar esse povo a pressionar o Congresso Nacional.
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Quando o Amálgama solicitou esta contribuição, a primeira resposta que me veio à cabeça foi: “Bom, votarei em Luciana Genro porque sou militante do PSOL e acredito neste projeto partidário, necessário nestes tempos difíceis”.
O sistema eleitoral que autoriza a profusão de legendas de aluguel; a generalização da lógica daRealpolitik, que levou a maioria dos partidos no Brasil a ser apenas uma sopa de letrinhas de siglas distintas com projetos muito parecidos – como se verifica nas coligações esdrúxulas que o povo brasileiro assiste em todas as eleições nos últimos 20 anos, baseadas no objetivo de mais espaço no horário eleitoral e, em decorrência, mais parlamentares; as semelhanças cada vez mais profundas entre partidos como PT e PSDB e as “alternativas” autointituladas representação da “nova política” com um discurso e programa conservadores; a corrupção sistêmica; tudo isso resultou num questionamento generalizado às instituições e nas multitudinárias manifestações de junho de 2013.
E até o momento a esquerda que não se adaptou ainda busca caminhos para dialogar com o difuso sentimento de negação do que aí está, com vistas à afirmação de um projeto efetivamente alternativo.
A candidatura de Luciana representa essa busca. E essa é a verdadeira razão de empenhar a ela meu voto. Fosse candidato do PSOL o senador Randolfe Rodrigues, apesar de acreditar da mesma forma no projeto da legenda que se constituiu para resgatar a proposta do Socialismo com Liberdade, não votaria nele. Pela primeira vez votaria nulo no primeiro turno das eleições presidenciais.
Embora desempenhe papel importante no Senado, Randolfe meteu os pés pelas mãos ao associar-se, ainda que formalmente, à base do governo federal para garantir algum espaço em comissões daquela casa legislativa; exagerou na dose ao declarar pensar em compor ministério com quadros do atual governo e engrossar o “volta, Lula!” anunciando que renunciaria à candidatura caso o ex-presidente decidisse disputar este pleito; e passou dos limites na tentativa de posar como republicano, deixando-se fotografar com o candidato tucano e ainda tecendo loas à biografia de Aécio. Tais atitudes evidenciavam pouca vinculação com a Agenda Pós-Junho/2013 e pouco apreço ao projeto do PSOL, confirmados pela brusca retirada da candidatura após conflagrar internamente o partido para impor seu nome como candidato no último congresso da agremiação.

A mudança que o Brasil precisa

Entre as candidaturas à frente nas pesquisas fala-se muito em mudanças, mas a verdadeira mudança que o país precisa não é defendida por nenhuma delas:
Controle de capitais. Ruptura com o tripé câmbio flutuante-superávit primário-metas de inflação, que mantém o país vulnerável à especulação financeira e dependente da exportação de commodities. Auditoria da dívida pública com suspensão do pagamento de juros e amortizações – à exceção dos pequenos poupadores – para liberar espaço no orçamento da União para investimentos. Controle do Banco Central pelo Estado, a fim de assegurar a soberania da política econômica. Reforma tributária que acabe com a regressividade dos impostos no país, onde quem ganha menos paga mais e quem tem milhões ou sonega ou paga muito pouco. Tributação sobre os rendimentos do capital maior que a tributação sobre os rendimentos do trabalho, e maior taxação do estoque de riqueza dos ricos.
Só essas medidas podem realmente inverter as prioridades do país e fazer com que o Brasil pare de definir o destino de seu povo aos cinco, seis anos de idade – quando um menino ou menina entra numa escola pública e outro entra na educação privada. Aí, como ressaltava nosso saudoso Plínio de Arruda Sampaio, começa a desigualdade abissal que temos no país e que vai se alargando com os anos.
A inversão de prioridades entre o pagamento de juros e o verdadeiro desenvolvimento do país permitirá uma política de geração de empregos para além da faixa de até três salários mínimos. Só com a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução salarial, por exemplo, seria possível gerar mais de 3 milhões novos postos de trabalho. E, segundo o Dieese, o impacto dessa política nos custos totais das empresas seria de apenas 1,99%, sendo que o aumento da produtividade do trabalho entre 1988 e 2010 foi da ordem de 92,7%.
Para o Brasil mudar efetivamente para melhor tem que ser prioridade do país encerrar o que Plínio de Arruda Sampaio qualificava como Bolsa Banqueiro – a destinação de 42% do orçamento da União para juros e amortizações da dívida enquanto apenas 4% vão para a saúde, 3,5% para a educação e 1% para o Bolsa Família (ver gráfico).
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Por mais direitos

O programa de Luciana Genro também estabelece que ações como o Bolsa Família “devem ser transformadas em políticas efetivas de transferência de renda, tratadas como política de Estado e acompanhadas por transformações estruturais, pois isoladas são meramente paliativas e insuficientes para assegurar a vida digna que todos merecem”. Nenhum outro candidato propõe a conversão deste programa em direito, num outro patamar de política social, porque isso seria o fim do proselitismo utilizado em época eleitoral para garantir o voto de quem depende desse dinheiro, com base no medo de perdê-lo caso mude o comando do país.
O salário mínimo, apesar do aumento real verificado nos últimos anos, ainda está muito abaixo do mínimo necessário apontado pelo DIEESE. E, como também dizia Plínio, quem defende com unhas e dentes os atuais valores do salário mínimo deveria viver com este valor. Sem falar da desvinculação do reajuste das aposentadorias ao salário mínimo, que vem penalizando os milhões de brasileiros que dedicaram anos a fio à construção da riqueza nacional. Uma política de seguridade social necessária ao Brasil tem que pôr fim também ao fator previdenciário e anular a reforma previdenciária de 2003 – aprovada em meio ao esquema que ficou conhecido como “mensalão”. E é o programa de governo de Luciana Genro e do PSOL que propõe avançar em tais medidas.
Para tudo isso, um governo que defenda os interesses do povo brasileiro e não de um pequeno grupo tem que mobilizar esse povo a pressionar o Congresso Nacional – que deveria representar os interesses dos brasileiros e não dos financiadores de campanhas – para aprovar uma reforma política real. Pelo fim do financiamento privado das campanhas; por um sistema eleitoral que não continue alijando mulheres, negros e outros setores sociais; para que se cumpra a Constituição e o povo seja chamado a efetivamente decidir sobre as grandes questões nacionais por meio de plebiscitos e referendos; pela introdução da revogabilidade de mandatos e fim do foro privilegiado. A governabilidade não pode ser sustentada nos jogos palacianos por maioria parlamentar. O parlamento e o governo devem estar a serviço do povo, e não o contrário como historicamente vemos no Brasil.

A agenda dos direitos humanos

O combate à homofobia e o fim da criminalização das mulheres que necessitam interromper uma gestação indesejada são políticas de direitos humanos e de saúde pública que jamais serão efetivadas enquanto se trocarem votos por apoio de bancadas religiosas. O Estado brasileiro é constitucionalmente laico e não pode continuar submetido a grupos religiosos que não representam a diversidade populacional, por maiores que sejam.
Da mesma forma, o enfrentamento ao racismo tem que começar a se efetivar a partir das instituições do Estado – com o fim da militarização das polícias e da política de estado penal que encarcera mais de 500 mil brasileiros, 60% negros. Ao invés de reduzir a maioridade penal, o Brasil tem que aumentar o número de vagas em creches, escolas e universidades públicas de forma a garantir a universalização do acesso prevista na Constituição. É preciso também institucionalizar a política de cotas na educação e nos serviços públicos, porque a Constituição de 1988 estabelece que somos todos iguais, mas os negros são até hoje vítimas dos 388 anos de escravidão e do racismo que estrutura a sociedade brasileira. Democracia é tratar de forma desigual os que estão em condições distintas em razão do processo histórico e social em que vivemos, até que essas disparidades se esgotem e sejamos todos os brasileiros efetivamente iguais em direitos.
Para tudo isso, enfrentar a agenda da democratização dos meios de comunicação tem que ser outra prioridade de governo. Todas as nações democraticamente consolidadas regulam os meios de mídia. Aliás, até nos Estados Unidos a mídia é regulada e um mesmo grupo não pode ser dono de jornais, TVs, rádios, revistas, sites e provedores de acesso como acontece no Brasil.

Um voto realmente útil

Não é verdade que vai tudo bem com o Brasil. Basta ver o pífio crescimento do PIB nos últimos dois trimestres, que especialistas já apontam como recessão. Somos o sétimo país mais rico do mundo e o 85º em desenvolvimento humano. Além disso, 51% dos brasileiros ainda vivem sem coleta de esgoto em pleno século XXI, segundo estudo recentemente divulgado pelo Trata Brasil. O país ocupa o 7º lugar no mundo em assassinatos de mulheres (dados do Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari). E no ano passado 312 homossexuais foram mortos por razões homofóbicas, segundo levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia. Os jovens negros ainda têm 3,7 vezes mais chances de morrerem de forma violenta que um rapaz branco na mesma faixa etária, conforme aponta estudo sobre o racismo no Brasil divulgado em outubro do ano passado pelo Ipea (órgão vinculado ao governo federal). E o mesmo relatório aponta que as mulheres negras são 60% das vítimas de mortes violentas.
O portal Fora da Escola Não Pode!, apoiado pelo Unicef em parceria com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, informa que mais de 3,8 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos estão fora da escola. A saúde pública não é um direito para todos, tendo em vista a quantidade de pessoas que morrem esperando um exame ou cirurgia. Até hoje não houve reforma agrária em nosso país.
Então não é possível que o voto considerado útil seja aquele que ajuda a eleger candidatos melhor colocados em pesquisas de opinião. Para que meu voto seja efetivamente útil, deve refletir o que penso que deve mudar no país, a fim de não me arrepender lá na frente.

Luciana Genro: porque é preciso coragem e coerência para garantir os direitos do povo

Cria do movimento estudantil, que já legou ao país centenas de lideranças políticas, ainda no Rio Grande do Sul, Luciana foi eleita deputada estadual pela primeira vez em 1994 e reeleita em 1998, pelo Partido dos Trabalhadores. De 2003 a 2011 exerceu mandato de deputada federal, primeiramente pelo PT e depois pelo PSOL. Sua saída do PT foi a culminação de uma série de enfrentamentos contra a adaptação daquele partido à ordem, desde a Carta aos Brasileiros até a reforma da Previdência de 2003.
Dedicada militante socialista, professora, advogada e mãe, Luciana merece meu voto.

Fonte: http://www.amalgama.blog.br/09/2014/por-que-votar-em-luciana-genro/